Foto: kicker.de |
Irradiado em 2012 e despojado dos sete títulos no Tour, por uso e distribuição de dopagem bioquímica, Armstrong iniciou o contra-ataque e escolheu o alvo mais importante de todos. Disse ao jornal inglês Daily Mail que Verbruggen considerou o seu teste positivo "um golpe mortal para o ciclismo" e aconselhou-o a arranjar uma receita médica que justificasse a utilização de cortisona.
Verbruggen, que agora pode ter prestar declarações perante a comissão independente de inquérito da UCI, perguntou se "alguém acredita em Lance Armstrong", mas depois admitiu à agência AP a hipótese de lhe ter dito que "a UCI precisa de uma receita" e nunca anunciou que ia processar o ex-ciclista.
Armstrong passou do céu ao inferno quando, após uma investigação do FBI, a Agência Antidoping dos Estados Unidos o acusou formalmente de consumo de substâncias ilícitas, sustentada em análises sanguíneas de 2009 e 2010 e no testemunho de outros ciclistas, entre eles o seu ex-amigo íntimo Tyler Hamilton.
Foi irradiado e viu serem-lhe retirados todos os títulos conquistados desde agosto de 1998 por uso e distribuição de dopagem bioquímica. Não recorreu da decisão e, já este ano, acabou por confessar tudo numa entrevista televisiva, assumindo que se dopou em todos os sete triunfos no Tour, entre 1999 e 2005.
O problema de Armstrong é ser reconhecidamente um batoteiro. O de Verbruggen é outro e tem a ver com os números do doping no ciclismo e com o facto de muitos casos só terem sido conhecidos após investigações policiais ou porque os batoteiros os confessaram, normalmente no fim das carreiras.
Se os vencedores dos últimos três anos - Cadel Evans, Bradley Wiggins e Chris Froome - não estiveram envolvidos em casos de doping, Carlos Sastre foi, em 2008, o único dos sete ciclistas que chegaram a Paris em primeiro nas edições do Tour entre 1996 e 2010 que permanece com o nome limpo.
As edições entre 1999 e 2005 ficaram 'vagas', pois não foi nomeado um substituto de Lance Armstrong, mas em 2006 e 2010 Óscar Pereiro e Andy Schleck foram declarados vencedores 'a posteriori', devido aos casos de doping de Floyd Landis e Alberto Contador. Bjarn Riis (1996), Jan Ullrich (1997) e Marco Pantani (1998) continuam na lista de vencedores, mas depois tiveram análises positivas e/ou confessaram o uso de doping.
Nos últimos 25 anos, muitos outros nomes importantes do ciclismo foram punidos por doping ou mais tarde confessaram a prática. A lista é longa, mas não exaustiva: Sean Kelly, Jesper Skibby, Claudio Chiapucci, Stephen Roche, Udo Bölts, Levi Leipheimer, Erik Zabel, Dario Frigo, Frank Vandenbroucke, Igor González de Galdeano, Mario Cipollini, Laurent Jalabert, Michael Rasmussen, Rolf Sorensen, Johan Musesuw, Jo Planckaert, Tyler Hamilton, Roberto Heras, Danilo Hondo, Ivan Basso, Aitor González, Alexander Vinokourov, Alessandro Petacchi, Alejandro Valverde e Fränk Schleck.
Investigações policiais em grande escala realizadas em França, Itália e Espanha, culminaram com a expulsão da equipa Festina do Tour de 1998, de vários ciclistas do Giro de 2001 e de diversos favoritos ao Tour de 2006, neste ano devido à Operação Puerto, na qual o médico Eufemiano Fuentes foi acusado de administrar doping a 200 desportistas profissionais.
Joaquim Agostinho, que sempre garantiu estar inocente, mas teve dois controlos positivos na Volta à França nos anos 70, dizia que "Não se sobem montanhas a comer bifes".
Provavelmente, os dirigentes da UCI nunca leram esta frase. Caso contrário tinham, pelo menos, mais cuidado na elaboração do percurso das grandes voltas, evitando dias e dias consecutivos de Alpes e Pirenéus, tão convidativos à batota...
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